Carta a Carlos, um querido desconhecido.
Esta história é uma resposta a um rapaz que passou por algumas perdas e decepções. Faz parte da sessão "mentoria" do site Papo de Homem.
Entao, vamos lá!
Boa tarde Carlos.
Meu nome é Eduardo, tenho 35 anos e sou professor universitário.
Passei por algo que de certa forma é muito parecido com sua experiência.
Pra
resumir, entre 2013 e 2015, após o fim do mestrado e desempregado,
minha irmã foi diagnosticada com câncer (pela segunda vez), a esposa que
eu tinha na época resolveu terminar o casamento e meu pai foi
diagnosticado com câncer de próstata. Depois disso, ainda nesse ano de
2015 amarguei a priemira grande crise de depressão, pois os
acontecimentos que falei foram o gatilho que desencadeou o processo
depressivo. E pra piorar eu estava em outro estado, onde eu havia feito
mestrado. Eu achava que nada de pior poderia acontecer.
No ano
seguinte, eu consegui um emprego como professor universitário no estado
onde nasci, mas não na cidade onde sempre morei. Foi muito bom estar
perto da minha família, no entato eu acompanhei de perto parte do
tratamento do meu pai contra o câncer que já era bastante avançado.
Mesmo vendo minha irmã se recuperar da doença dela, nós já sabíamos que o
processo do meu pai já estava bastante avançado, era só uma questão de
tempo. Não foi fácil ver meu pai e minha única irmã mulher recebendo
quimioterapia numa mesma sessão. Sim, as vezes ela o levava pra sessões
de quimioterapia e os dois fizeram o tratamento juntos.
No
entanto voltei pra o estado onde fui criado sabendo que o processo
depressivo havia me preparado ṕra coisas piores que poderiam acontecer, e
foi exatamente assim que aconteceu, meu pai faleceu em julho de 2016.
Logo depois, minha mãe que acompanhou todo o processo de perto, após a
perda de meu pai foi se enfraquecendo emocionalmente e fisicamente,
vindo a falecer no ano seguinte, em agosto do ano passado.
Perder
meus pais, em especial a minha mãe, que sempre foi meu principal
referencial de ser humano foi como se eu tivesse perdido toda a minha
famĺia, e agora sinto como se eu estivesse sozinho no mundo, como se
agora sim eu estivesse sendo responsável pela minha vida, que todas as
experiencias emocionais daqui pra frente terei que enfrentar sozinho.
Atualmente
convivo com a depressão, me submeto a terapia, e acompanho minha irmã
que mais uma vez conseguiu se recuperar do cancer, mas ainda sofre de
suas sequelas. Ela continua sendo minha grande companhia e inspiração
enquanto mulher e pessoa (sobre ela teríamos outra grande história pra
contar).
O que posso dizer diante de tudo isso, e considerando
sua experiencia, é a primeira coisa que você não pode é deixar de pedir
ajuda, pedir ajuda aquelas pessoas que voce sabe que pode contar. Outra
coisa (que eu aprendi da da forma maios difícil possivel), não ficar
especulando o porquê de a mulher que estava ao seu lado ter decidido
partir, isso só vai mascarar a verdadeira dor que está sentindo. Nunca
esqueça dos seus valores e do caráter que você tem. E pra finalizar,
você quando decidiu trabalhar com Uber fez uma excelente escolha; essa
atitude de fazer o que aparecesse pra dar conta de suas necessidades
finaceiras pode ser o começo da sua reestabilização emocional.
Concluindo,
eu não poderia deixar dizer com base em minha experiência que, a vida e
o nosso caráter é feito de nossas decepções, dos nossos traumas, das
perdas que vamos tendo pelo caminho, bem como do que fazemos dessas
experiencias. A grande esperança que devemos cultivar é à partir do
caráter que temos, assim, mesmo que percamos tudo: amigos, família,
emprego, esposa, nada disso vai colocar em questão seu valor.
Espero que esse textão tenha ajudado em alguma coisa.
Ps.
Atualmente continuo como professor universitário e estou desenvolvendo
um projeto sobre masculidades e depressão como estudos pro doutorado em
antropologia (tomara que o projeto seja aceito!)
Um caloroso abraço!
Ps. Carlos é um nome fictício.
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