Gênero: Drama
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Alexander Skarsgård, Brady Corbet, Cameron Spurr, Charlotta Miller, Charlotte Gainsbourg, Charlotte Rampling, Christian Geisnæs, Claire Miller, Deborah Fronko, Gary Whitaker, James Cagnard, Jesper Christensen, John Hurt, Katrine Sahlstrøm, Kiefer Sutherland, Kirsten Dunst, Stellan Skarsgård, Udo Kier
Produção: Louise Vesth, Meta Louise Foldager
Fotografia: Manuel Alberto Claro
Duração: 136 min.
2011
Melancolia (do grego μελαγχολία - melagcholía; de μέλας - mélas, "negro" e χολή - cholé, "bílis") é um estado psíquico de depressão com ou sem causa específica. Caracteriza-se pela falta de entusiasmo e predisposição para atividades em geral.
Um
filme sobre depressão. Descrição exata dos sintomas de forma tão
chocante que esquecemos que esta doença existe. No filme, Lars Von
Trier nomeia Melancolia a um planeta que se oculta atrás do sol e
que estaria prestes a se chocar com a Terra.
Melancolia,
filme tenso e confuso. No entanto, é justamente nos elementos
colocados em confusas relações familiares, na primeira parte do
filme, que os espectadores vão achando sentido no filme, na medida
em que as tensões se identificam com quem assiste.
Filme
com fotografia invejável, cansa propositalmente os expectador com
imagens em câmera super lenta. Imagens que só farão sentido no
final do filme. A trilha sonora simples, ainda que magnífica -
Tristão e Isolda de Richard Wagner, faz-nos sentir um clima de
desolação e absurdo. É o clima de todo o filme. Aliás, desolação
e absurdo são os temas de Lars Von Trier.
Como
muita gente já assistiu posso falar. O filme se divide em duas
partes, Justine - Kirsten Dunst (atriz que eu adoro) e Claire
- Charlotte Gainsbourg
(atirz que passei a gostar depois de sua atuação em Ninfomaniáca).
Na primeira parte, a personagem Justine é uma noiva doida, rebelde e
inconformada, que não se contenta com uma suntuosa festa de
casamento, nem com seu noivo que a ama. Visivelmente se nota o climão
pesado, quando os noivos chegam da cerimônia de casamento pra um
jantar de recepção, depois de duas horas presos numa curva em uma
estrada de barro minúscula, pois a enorme limusine não permitia uma
manobra adequada numa pista como aquela.
A
primeira cena: Justine.
No
jantar o caos se instala: uma mãe ranzinza, que publicamente admite
não suportar casamentos, o pai bonachão relativamente fracassado
profissionalmente, o patrão da noiva, publicitário que falava em
lucros à noiva mesmo no dia do seu casamento. O clima pra Justine
estava tão tedioso que ela foi levar o sobriho ao quarto e acabou
dormindo em seu próprio casamento enquanto os convidados a esperava
pra cortar o bolo! Um inferno astral. A noiva louca de pedra, ao
ponto de transar com o rapazinho recém contratado pelo seu patrão.
Enfim, a festa foi o próprio fim do casamento.
A
insatisfação de Justine estampada em sua cara já mostrava o fim do
casamento ainda na festa. Insatisfação, tristeza profunda sem causa
aparente, sono ou ausência deste em horas inesperadas, desejo de
fuga. Sintomas que já diagnosticariam Justine como depressiva em
estágio grave. Sua irmã Claire, o tempo todo conseguia acalmar a
todos. O mundo se acabando e mulher cândida e tranquila. Claire se
mostrava a torre forte pra o marido que reclamava dos custos da
festa, pra mãe amarga e difícil de descer como cerveja Heinikem
quente. A mulher era uma rocha. Esse é o melhor dos sintomas da
depressão, tranquilidade inesperada na hora mais estressante
possível. Sem contar com a paciência que tinha com a irmã mais
nova, apesar dos picos de ira que se resumiam em: "tem horas que
eu tenho ódio de você".
A
segunda cena: Claire.
Nesta,
os sintomas da melancolia se aprofundam em Justine, ao ponto de ficar
perdida pela rua e precisar ser trazida pra morar com a irmã Claire.
Esta começa a mostrar certa tensão e curiosidade em assuntos
astronômicos. Isto porque o marido, astrônomo podre de rico (de
onde tiraram a ideia de que pesquisadores enriquecem?) havia previsto
a aproximação do planeta Melancolia da órbita da Terra e
obviamente, não acreditava que este planeta não se chocaria com o
nosso. Claire se mostrava o tempo todo apreensiva. No entanto, o fato
de haver ou não um choque entre os planetas não abalava o
desinteresse de Justine na vida. A presença de Justine é
insuportável, mesmo assim Claire não se comporta como a irmã mais
velha raivosa, trata sua irmã melancólica com todo carinho e
paciência. Justine vai definhando, demonstrando insignificância em
existir, na medida que Claire não se conforma com o tom consolador
do marido pesquisador em astronomia a trata. Tenta a todo momento
esconder a angústia expressa na sensação de explodir junto com o
planeta.
Uma
questão filosófica é colocada pelo autor neste filme: a vida é
uma grande absurdo, acreditemos na longevidade da vida humana ou não,
soframos bons e maus momentos na vida. Nada faz sentido. Em seus
filmes essa é a temática. E fontes seguras afirmam que Lars Von
Trier sofre de depressão, algo admitido por ele mesmo. Um pomposo
casamento com um homem bem sucedido não foram suficientes pra trazer
contentamento a Justine, muito pelo contrário, esta demonstrava
profunda angústia, enquanto sua irmã consolava a todos.
O
mundo estava prestes a explodir e Claire mesmo sem ter certeza disto
se desesperava, mesmo sob o consolo do marido e a curiosidade do
pequeno filho. O autor do filme com seu niilismo desacredita na
humanidade ao ponto de achar que o choque da Terra com outro planeta
não seria absurdo. Justine também não, tanto é que ela não se
mostrava preocupa, inclusive consolou a irmã e o sobrinho enquanto a
Terra esfarelava.
Melancolia,
característica que realmente existe. Os gregos já caracterizavam
sua existência, os medievais notificavam seus sintomas por sinais
visíveis, o escurecimento da pele era o principal. Diferentemente do
que eu pensava, a depressão parece ter origens remotas, parece não
ser uma doença exclusiva da modernidade, do individualismo. Algo
parecido com o que o profeta Elias sofreu ao ser ameaçado por
Jezabel, mesmo após ter massacrado com os profetas de Baal no Monte
Carmelo (1 Reis 18: 16-45; 19:1-18.
Lars
Von Trier trata de uma realidade, ainda que ele a superlativize em
suas películas. Mas este é o recurso de quem se utiliza da arte. O
choque do absurdo levanta questões, ainda que em tom de brincadeira.
Mesmo assim um assunto verdadeiro é pautado.
A
vida é um absurdo. Não obstante, esperança deve sim ser a
perspectiva humana que baseia suas realizações, ainda que absurdas.
Pois a vida é até pra Wood Alem é um bom resultado de bons acasos
(estranho isso, como o acaso pode trazer esperança?).
Por
mais caótica que pareça ser a vida existe um sentido e por mais
dura que ela seja e sem sentido realmente se processe na terra, cabe
a nós darmos sentido. Deus está conosco no que há sentido e no que
não há sentido. Mesmo a vida sendo absurda e é Deus é o senhor da
história.
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